Meu pequeno príncipe


Sempre penso como é difícil falar de um filho. Bem é difícil e fácil ao mesmo tempo, pois falamos de alguém que amamos da maneira mas especial que pode existir... O dia que a humanidade se amar como os pais amam seus filhos o Mundo será perfeito, as dores cessarão.


O meu João Paulo, JP, sempre foi uma pessoa feliz Sua alegria transbordava desde a infância. Nasceu cheio de talentos e sempre me surpreendia com sua criatividade. Eu nunca me preocupei com o seu destino, pois imaginava que Deus tinha reservado um futuro especial para ele, já que era dotado de muito talento para as artes.


Já muito pequeno desenhava muito bem. Aos sete anos montou um carrossel que desenhou no caderno. Aos nove copiou à mão livre um quadro da avó e por aí foi. Fez vários cursos de desenho e na adolescência, quando estava cursando desenho artístico, veio me pedir para fazer um curso de teatro. Na ocasião eu não podia pagar o novo curso. Então, um mês depois, ele voltou dizendo: “Mãe escrevi para o diretor do curso de desenho e mandei alguns desenhos meus. Ganhei uma bolsa integral. Agora você pode pagar o curso de teatro?” E assim foi, este era o jeito dele.


Em novembro de 2006, ele me falou que iria trabalhar em São Paulo, iria para uma emissora de TV. Eu falei para Deus: “Senhor vai levar meu filho para longe de mim? Mas se for para o bem dele que seja”. Naquela ocasião, ele estava trabalhando em uma empresa de designer , da qual participou da montagem e que foi premiada por uma universidade. Além disso, tinha acabado de atuar em uma peça de teatro e estava ensaiando para outra. Ele estava muito feliz, num dos melhores momentos da sua vida. Fazia aulas de canto, de teatro e de dança. Tudo de bom estava acontecendo na sua carreira profissional.


Infelizmente, nesse momento um outro jovem atravessou a sua vida. Na madrugada do feriado de 15 de novembro ele foi atropelado e morto quando voltava para casa.


Foi a dor mais terrível da minha vida.


Domingo passado uma pessoa me perguntou se penso muito nele. Eu respondi: todos os dias. Procuro não pensar em sua morte e sim em sua vida, tão feliz e tão plena de integridade e de amor ao próximo. Ele me deu lições de fraternidade, me surpreendendo e fazendo com que eu percebesse e vencesse minhas limitações e preconceitos. Ele amava pessoas, independente de qualquer coisa.


É duro escrever sobre sua morte, mas é preciso. Comecei o dia abrindo uma página de reflexão, como sempre faço, ao acaso, e li “razão da morte prematura”. Pensei: como assim? Meu Deus não permita que nada aconteça a nenhum de meus filhos. Tenho outros filhos, maravilhosos. No entanto, a pergunta mais inconveniente que sempre escuto é “Ele era filho único?”. Então criei a seguinte resposta: Você tem cinco dedos em cada mão? Gostaria de ficar sem algum? Então transfira este sentimento a um ente querido. As pessoas não entendem. Sempre me lembro da Nair Belo e da lição que ela me deu em relação aos irmãos-órfãos. Faço de tudo para continuar sendo mãe amorosa dos que ficaram, pois eles já perderam o irmão, não merecem ficar sem a mãe. Porém, isso não diminui minha dor. A saudade é o pior tormento.


No final daquele dia todos estavam bem. Mas a alegria durou pouco. No meio da noite o telefone tocou e era do hospital. Quando cheguei lá o João já estava morto. Eu tinha falado com ele por telefone. Ele ia dormir na casa de um amigo, sócio da empresa. Eles se reuniram para falar sobre alguns projetos. Ficaram conversando até tarde, mais ou menos 1h30min da madrugada, então um deles chamou um taxi para ir para casa e ofereceu carona ao meu filho. Ele recusou e resolveu aproveitar para ir para casa a pé, nunca chegou. Na Tijuca, ao atravessar a Av. Heitor Beltrão, ele foi atropelado por um jovem dois anos mais velho que ele, tinha 22 anos. O jovem estava acompanhado da namorada e de uma amiga. Segundo seu depoimento, ele saíra de casa, na Rua Marquês de Valença, e ia levar a namorada em casa no Bairro de Colégio. Resumindo, ele disse não ter visto o João, que tinha 1,78m, num trecho que é bem sinalizado e iluminado. O rapaz se recusou a fazer exame no IML para constatar se havia consumido algum tipo de droga. Sua advogada, segundo testemunho de um policial, bradava ao médico que examinasse o meu filho morto, a ponto do médico perder a paciência dizendo: “Senhora o rapaz está morto, faremos o exame nele depois, o seu cliente é que precisa ser examinado agora”.


Nada disso trará meu filho de volta. Mesmo assim, quero e luto por um trânsito livre de desrespeito e crime. Tudo o que for possível fazer para evitar dor de outras famílias e a interrupção de vidas como as do meu filho quero fazer.


Por isso este meu desabafo, dolorido, inconstante em seu relato, mas extremamente sincero de uma Mãe-Orfã.


Te amo Meu Filho e sempre te amarei.


Estou em luto e luto por um mundo um pouco mais parecido com aquele que você tanto sonhou, pois sei que um mundo perfeito existe em seus bons sentimentos e em seus ideais, meu Pequeno Príncipe (assim os amigos o apelidaram).


Anna Mateus

3 comentários:

  1. João Paulo um menino dinâmico que lutava muito pelo que queria,infelizmente morreu em um acidente de trânsito,mas deve ser parabenizado por sua luta.

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  2. Bacana amigo esse seu trabalho.dar oportunidade de conscientizar as pessoas nesse momento.parabéns.

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  3. E triste ver uma pessoa tao jovem interromper
    seus sonhos em um acidente de transito. Tantas
    campanhas, e ainda temos que conviver com situa
    coes de pessoas inrresponsaveis que nao fazem
    ideia da dor de uma mae ao perder seu filho.
    Esse jovem se foi, mas nao vamos cita-lo como
    um exemplo, e sim como um sinal de alerta...

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